Afrodescendência
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Descrição
“Vidas negras importam”. As vozes da ancestralidade e da sabença afrodescendente em cosmogonia reconectam a narrativa solidária dos Malungos na diáspora e África. A epígrafe de Achille Mbembe chama à atenção para o novo de tempo da palavra, da fala, da narrativa de experiências e de dentro de nós, porque o discurso hegemônico, de supremacia racial da Europa e colonialistas seus aliados fizeram da identidade afrodescendente um verdadeiro frangalho. Em outras palavras, como afirmara Frantz Fanon (2008), passamos a ter vergonha de nós mesmos/as, vergonha da nossa origem africana, vergonha dos nossos antepassados, da nossa História, da nossa cor. Por esses e outros motivos, como sequestro e tráfico do africano, escravatura, violência, violações, preconceito de cor, racismo estrutural, genocídio contra jovens e crianças negras e pobres no Brasil de hoje, que lhe abrimos as páginas do livro de autoria coletiva AFRODESCENDÊNCIA, organizado pelo Prof. Dr. Francis Musa Boakari, natural de Serra Leoa, África.
Estamos diante de uma pessoa e professor admirável, de erudição profícua, solícito e de elegância no tratamento – um griot em diáspora que trouxe consigo as sabedorias da ancestralidade africana, cujas engenhosidades foram e têm sido compartilhadas entre nós pela magia da Palavra, a ciência da arte pedagógica do bem ensinar e formar homens e mulheres para um mundo melhor, lugar de todos os povos, gêneros, raças ou etnias. A formação acadêmica do professor Francis foi construída nos Estados Unidos, em cujo país frequentou e concluiu dois cursos de graduações, um mestrado e dois doutorados. Em 1987, bons ventos semeadores do saber e nobreza guiaram a nave do Príncipe Musa Boakari com destino a Teresina, capital do Piauí. Naquele mesmo ano, o nosso protagonista ingressava na Universidade Federal do Piauí, no curso de Sociologia do Departamento de Ciências Sociais, por meio de concurso público. A partir de então, iniciava a saga de três décadas e meia do Professor Africano, que adotara esta cidade e lugar de afeto e dádivas como sua própria terra: “Estou no Piauí como consequência das “coisas da vida da gente” – encontros e desencontros, pertencimentos, questões políticas e pessoas com quem “Deus presenteia a gente”.
Conheci-o por volta de meados dos anos 1990, ocasião em que me estendeu o memorável convite para proferir palestra relacionada à representação do negro na literatura brasileira durante um encontro acadêmico na UFPI. A partir daquela ocasião, frutificaram-se a boa amizade, a parceria, o ativismo identitário, o intercâmbio e cooperação de saberes afrodescendentes UFPI/UESPI. Em 2001, tive a grata satisfação de tê-lo como meu convidado para Membro Externo da Banca de Defesa da minha dissertação do Mestrado em Literatura Brasileira, intitulada: Identidade e solidariedade na literatura do negro brasileiro, na UFC, Fortaleza, Ceará. Anos mais tarde, já em 2008, quando ele ministrava a disciplina História da África na Especialização lato sensu em Literatura e História e Afro-Brasileira e Africana da UESPI, coordenada por mim, o professor Francis disse-me – “Elio, por que você não faz um evento internacional sobre afrodescendência?” No ano seguinte, com o apoio e colaboração dos colegas professores e alunos da UESPI, realizei o ÁFRICA BRASIL 2009 – I Encontro Internacional de Literaturas, Histórias e Culturas Afro-Brasileiras e Africanas da UESPI, evento bienal, a caminho da VII edição. Em particular, manifesto a alegria de sermos bons amigos e compartilhado juntos as dezenas de eventos, cursos, bancas de especialização, mestrado, doutorado etc.
Entre 2002 e 2008, Francis Musa Boakari foi professor na University of the Incarnate Word (UIW)… Full Professor de Internacional Education and Entrepreneurship (IE&E), Texas, EUA. Em 2009, foi admitido no Departamento de Fundamentos da Educação, CCE, através da aprovação em novo concurso público na UFPI, realizado em 2008. Francis é professor fundador e ex-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação, onde continua desenvolvendo de forma intensa e prolífera atividades relacionadas ao ensino, à pesquisa e à extensão.
AFRODESCENDÊNCIA é uma entre várias coletâneas já organizadas por Francis Musa Boakari. Nas demais coletâneas, contou com a autoria de outros professores da UFPI na organização. A capa do livro se assemelha à tapeçaria africana, cuja arte imagem representa a diversidade temática, construção de identidades, experiências vivenciadas pelos afrodescendentes, problematizações pertinentes ao racismo à brasileira. São dezessete artigos engenhosos, bem resolvidos, que fazem o curso do rio de palavras, das vozes faladas e escritas prenhes de ancestralidade e do aqui e agora dessa grande nação – chamada Brasil, que fecha os olhos à dor, ao abandono, à pobreza, à violência do contra os filhos e filhas de “pele escura”, lembrando W. E. B. Du Bois (1999). Os textos do livro dizem da autoestima, resiliência, superações, resistência e, em particular, atualizam o debate sobre o racismo à brasileira, a branquitude, a necropolítica, a política negacionista do governo brasileiro atual, este por desqualificar afrodescendentes, indígenas e banalizar o genocídio contra milhares de jovens e crianças negras pobres nas metrópoles do nosso país.
AFRODESCENDÊNCIA cumpre a missão de Ogum no que tange ao ensino e educação de formação universitária no Piauí. Trata-se também de mais uma obra de excelência e demarcadora da trajetória longeva de Francis Musa Boakari. Com afirma o este autor/organizador: “A coletânea é resultado de sentir necessidade de divulgar preocupações existenciais e disseminar reflexões e problematizações das pessoas, participantes do Núcleo de Estudos e Pesquisas RODA GRIÔ-GEAfro: gênero, educação e afrodescendência, CCE/UFPI, desde por volta de 2010, acerca das questões identitárias.” A maioria dos autores e autoras dos artigos de AFRODESCENDÊNCIA é ou foi orientando/a da pós-graduação. Esses “participaram de elementos curriculares”, ou seja, disciplinas, do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED/UFPI), orientados e sob a responsabilidade do professor Francis.
Da minha parte, agradeço ao amigo e professor Francis pelo convite para prefaciar esta obra. Desejo boa aprendizagem e deleite para todxs.
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