Cleilson é o nome que dá nome a um pássaro, cujo canto é canto de palavras, mesmo quando as coisas são coisas sem palavras pelas aves marias imaginárias nas novenas passadiças. Mesmo na noite dos olhos, nas asas dos anos, no coração dos calendários, em que o menino ainda corre atrás dos cabelos de uma estrela, e a idade flutua sobre os cacos ensanguentados da memória, em seu coração de menino jorra, para sempre, as labaredas calcificadas no sangue dos ninhos, com o milagre de saber que a vida é tudo que lateja, a sagração do pão com ofício de latejo, em pétala de sonho se abrindo, desenhando no chão por onde passa, como se andasse dentro de seus olhos. O pássaro está entre o signo da manhã e o silêncio de um alfabeto submerso, e sua palavra, cansada de sentir-se desabitada pelos casarios da rua torta de um tempo ensanguentado, descansa agora à sombra dos ossos da paisagem, e a saudade, continua salivando diante do abandono. As faíscas dos fósforos de antigas chuvas sem memória, as faíscas enfurecidas do silêncio das estrelas, cujos mortos dialogam com as portas das casas abandonadas, onde os vaga-lumes desenham um triste tricô envelhecido no canto novo de Cleilson.