O Filho Avulso é uma confissão arrebatadora, brutal e lírica. Juvenal Arruda conduz o leitor emprestando ao personagem insólito e misterioso a sua voz poética, como para mitigar o peso do abandono e da solidão, através de uma narrativa permeada por questões dolorosas sobre o quanto perdemos em ternura e afeto ao longo dos anos. A prosa inquieta-nos e desafia-nos a revirar nossas próprias memórias — tanto as mais lúdicas e fantasiosas, quanto as mais excruciantes e afiadas. E, talvez, incita-nos a responder: por que somos o que somos?

Percebe-se o lirismo e o lúdico do personagem enquanto narra o jardim de sua infância e suas impressões acerca da família e dos amores e desejos secretos de seus parentes, bem como o nascimento inusitado de sua irmã de natureza alada, que impressiona e comove. Ao longo da narrativa, somos levados a refletir com o personagem sobre temas que norteiam nossa existência, como Deus, religião, tempo, vida e morte, e como o amor é capaz de resgatar nossa pureza original e revelar a valia da vida.

O Filho Avulso carrega um drama inventivo e maravilhoso. Com certeza, permanecerá na memória de seus leitores por anos. Um assombro poético e pungente das memórias que gostaríamos de olvidar e daquelas que guardamos no canto do sorriso ou no brilho miúdo do olhar amadurecido.