Em dezembro de 2021, aconteceu a 20ª Bienal Internacional do Livro do Rio, um dos maiores eventos literários do Brasil. Foram dez dias de evento, realizado como uma edição híbrida pela primeira vez devido à pandemia. Ocorreu com a participação de 180 convidados, tanto nacionais, quanto internacionais.
De acordo com uma pesquisa realizada pela própria organização da Bienal, 750 mil pessoas acessaram a plataforma durante esses dias. Já os visitantes presenciais totalizaram 250 mil pessoas. No total, 34,5% estavam participando pela primeira vez e 50,8% tinham entre 18 e 25 anos.
Além disso, segundo pesquisa realizada com os frequentadores, quase 99% comprou pelo menos um livro. Isso apontou para uma maior venda de exemplares do que na edição anterior. Novas editoras do mercado literário tiveram também uma maior oportunidade de participar do evento, representando 18 das 85 que expuseram no conhecido espaço Boulevard da Bienal.
Embora os dados nos levem a crer que o evento tenha sido um sucesso, o que se escutava nos corredores, sobretudo entre os profissionais do campo editorial e livreiro, foi, na realidade, diferente. A grandiosidade da Bienal não se compara com os anos anteriores à pandemia, ponto visível pela ausência de grandes editoras, como a Companhia das Letras. Nota-se que ocorreu um tremendo esforço para que houvesse um evento híbrido, no momento em que a variante ômicron no Brasil se espalhava pelo país, lá por dezembro.
Longe de ser pessimista, mas buscando manter os pés no chão, o maior evento livreiro da América Latina não superou os seus recordes de público ou de vendas no ano de 2021.
Taxa de compra de livros no evento se difere da vendida nas livrarias
“Em alguns momentos, sinto que minha livraria agora virou show run. As pessoas entram na livraria, olham o livro, olham na internet e saem” (Dona de uma livraria no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro).
Mesmo com a grande taxa de compra de livros durante toda a programação da Bienal, que apresentou uma média de oito livros por visitante, a realidade de vendas por parte das livrarias ainda é diferente.
As tradicionais livrarias estão encontrando dificuldades para se manter firmes no mercado literário e a pandemia aumentou essa crise. Como efeito do isolamento social, ocorre também uma grande ascensão de plataformas digitais (que já vinha em crescente) que oferecem o mesmo serviço, só que de forma on-line, como a Amazon, por exemplo, e com um valor muito mais barato.
Outro desafio que o mercado editorial vem enfrentando é a própria pandemia, que o reduziu em 8,8% em 2020. Se por um lado a pandemia desestabilizou as livrarias, os espaços de venda digital passaram a marcar presença nos eventos do mercado livreiro e editorial, como a tradicional Submarino, com o seu espaço de exposição grandioso, que, nesse ano, trouxe também para divulgação os games.
Em conversa com uma proprietária de uma tradicional livraria no bairro Leblon, no Rio de Janeiro, a queixa foi que as pessoas entram na livraria, olham o livro físico, pesquisam a diferença de valor na internet e saem sem nenhuma vergonha. Isso demonstra que as livrarias passaram a ser show run dos e-commerce. Isso possui como consequência uma queda explícita no faturamento.
Essa queda representa uma nova predominância do e-commerce, além da venda via redes sociais. Outro ponto é a nova dependência dessas plataformas para vender os seus produtos e serviços, principalmente da Amazon. Novas livrarias com porte médio para pequeno estão também apostando em uma curadoria de acervos menores ou com temas específicos.
Falta de acessibilidade nos livros
Outro ponto notado com o evento, que demonstra um retrato da indústria literária no geral, é a falta de acessibilidade nos livros por parte das livrarias. Em grande parte, essa falta de acessibilidade é causada por fatores econômicos e sociais. Ambos influenciam diretamente no poder de aquisição e, consequentemente, no acesso a livros e outros produtos e serviços das livrarias.
Enquanto isso, países da Europa, como Portugal, são referência na acessibilidade. Já se fala em livros em multiformato, ou seja, livros que possam atender o público com deficiência visual, deficientes auditivos, pessoas com baixa visão e autistas. Já no Brasil, ainda é difícil encontrar uma editora que possui livros em Braile. Essa deficiência no mercado editorial pôde ser observada na Bienal do Livro, onde apenas duas editoras tinham livros em Braile.
Um desafio que temos como interesse enfrentar e buscar a fim de nos tornarmos referência na literatura inclusiva. Que as próximas Bienais nos aguardem!